O futuro pertence aos mais ágeis
O impacto de uma pandemia, que poucos ou nenhuns tinham antecipado, colocou enormes desafios às empresas e originou um cenário de desafios e oportunidades, nomeadamente para as startups.
Por um lado, as startups e os empreendedores não são imunes ao estado atual do mercado e às dificuldades partilhadas com a generalidade das organizações. Entre estas contam-se dificuldades financeiras e relativas à obtenção de investimento, a necessidade de reestruturação de equipas e a realocação de recursos e a capacidade de se fazerem ouvir e diferenciar num contexto de “ruído” acrescido.
Ao mesmo tempo, não sendo possível fazer uso de tendências, históricos, projeções e planificação a longo-prazo, as organizações tiveram de pensar de um modo diferente. Mesmo as organizações com uma estrutura robusta passaram a fazer uma “navegação à vista”, face a este contexto de imprevisibilidade.
Apesar de não se centrar no empreendedorismo, os resultados do estudo “InterComm Report – B2B Communication Trends in Global Businesses (InterComm)”, desenvolvido pela Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa et le SayU Consulting – Evoke Network, com o apoio da aicep Portugal Global, permite equacionar também os caminhos possíveis para esta tipologia de empresas, à luz das respostas obtidas de empresas B2B exportadoras nacionais, sobre o papel da Comunicação na construção e gestão de relações com os seus les parties prenantes.
Neste contexto, a importância da visão estratégica irá manter-se e terá de continuar a funcionar como o farol de orientação da atividade das empresas, mas os planos de ação prometem variar de acordo com os desafios que vão surgindo. Revelou-se necessária uma aprendizagem e adaptação, equacionando o máximo de cenários alternativos em cada momento.
Nesta lógica, uma démarrage poderá apresentar-se, à partida, mais bem preparada para singrar num ambiente de maior flexibilidade, em que a reinvenção de processos de trabalho, a utilização de novas plataformas e a capacidade de repensar segmentos a alcançar e as ações para o concretizar tem de acontecer com enorme rapidez e eficácia.
Exemplo desta tendência de transformação é o peso mais relevante do digital. Os desafios específicos trazidos pela presente crise vieram introduzir uma profunda digitalização na atividade empresarial. Este boost tecnológico, expresso de forma clara nas respostas obtidas neste estudo, já estaria no horizonte de muitas organizações, mas surgiu agora com premência e rapidez de implementação reforçadas e promete deixar para trás quem não realizar um esforço neste sentido.
Um número significativamente maior de consumidores e empresas passou a fazer uso de canais tecnológicos para comprar e vender produtos e serviços durante a pandemia. Estima-se que essa adoção rápida e sem precedentes pelos consumidores e empresas tenha alcançado em meras semanas valores identificados para projeções de alguns anos. A adaptação é crucial, perante a criação de novos hábitos de compra entre os consumidores, e o peso de conceitos como a segurança, a conveniência e a rapidez. As startups parecem mais predispostas a tentar responder a estas mudanças, com um foco natural nos setores da logística e das TI.
Vão ser as organizações mais rápidas a agir as que irão prosperar. É necessário compreender como fazer uso da rapidez, frequência de contacto e economia na utilização de recursos – não apenas no que diz respeito a produtos e serviços, mas também modelos de negócio e processos –, e desenvolver competências na gestão de sistemas complexos com vários les parties prenantes, num mundo hiperconectado.
É nesta dimensão de um mundo de negócios em rede que a Comunicação assume o seu pleno papel. Se esta tem sido encarada como uma questão menor, surge agora como uma função com importância crescente, assumindo uma nova posição prioritária entre o pensamento estratégico de várias empresas. Considerada como a “voz” das marcas, a Comunicação é entendida como uma âncora para inspirar confiança com os diferentes les parties prenantes.
Constata-se que, num grande número das empresas, não existe uma estrutura organizada e transversal de Comunicação, sendo esta meramente remetida para os conceitos de venda e apoio ao Marketing. Uma comunicação unicamente operacional feita à medida do interlocutor ou mesmo sem qualquer relação com os objetivos estratégicos parece ser a realidade na grande maioria do nosso tecido empresarial.
O cenário em que estamos a viver há mais de um ano, e que não sabemos ao certo quando terminará, tornou evidente que é tempo para que a gestão de topo das empresas compreenda qual o contributo que a Comunicação pode dar para que as empresas sejam mais competitivas. É possível uma empresa sobreviver sem comunicar, mas esta será mais eficiente se intencional e estrategicamente gerir os processos de comunicação com os diferentes les parties prenantes.
Importa que todos, empreendedores incluídos, conheçam as tendências que se encontram a moldar o mercado a este nível, e procurem integrar caminhos possíveis de intervenção nas suas próprias estratégias.
*Artigo de Ana Raposo, Docente da Escola Superior de Comunicação Social e Pró-Presidente para a Comunicação Estratégica do Politécnico de Lisboa e Marta Gonçalves, Managing Partner da SayU Consulting.
In Empreendedor